quarta-feira, 21 de abril de 2010

DESPEDIDA



Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero a solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...).




[Cecília Meireles]                

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